As marcas têm papel fundamental para erradicar a LGBTQfobia

Muitas empresas não assumem um posicionamento sobre determinado assunto sob pretexto de não se envolver em questões políticas. Mas essa neutralidade nunca está, de fato, neutra. A LGBTQfobia é um conceito que abrange diversas formas de agredir pessoas que não são heterossexuais ou cisgêneras. Acontece com seres humanos que expressam suas identidades e seus corpos e são julgados por não fazer parte do padrão social. Mas qual é o padrão aqui? Se absolutamente ninguém é igual nessa existência. Permanecer em silêncio enquanto essas agressões ocorrem é um posicionamento que vai contra os valores fundamentais de se estar vivo. E isso, ironicamente, está na raiz de muitas religiões. O amor sobre todas as coisas.

Só que a LGBTQfobia é um problema antigo, enraizado na herança antropocêntrica onde o homem era o centro do universo (o homem branco, cis, hétero) e todo conhecimento apenas cabia a ele saber.  E todas as demais formas de vida foram subjugadas: as mulheres, pessoas negras, travestis, homossexuais, pcds, lésbicas, ciganas, os judeus, os pobres, os animais, às árvores. Não é um problema que se resolve num mês a cada ano, mas é uma mudança de paradigma onde todas essas formas de vida reivindicam seus direitos e sua participação na sociedade.

O antropocentrismo é inimigo da diversidade. Mas toda vez na natureza que existe um sistema maduro, existe colaboração de seres diversos. Sem colaboração de seres diversos não existem sistemas complexos.

As marcas são o elo emocional entre as pessoas e as relações de consumo, o século 21 e o avanço da tecnologia proporciona a possibilidade das marcas viverem a mesma realidade. Essa é a era da transparência. Então as marcas precisam estar atentas às questões socioambientais para entender as pautas de seus públicos e principalmente, ser ativa na facilitação de informações e promover diálogos além de promoções e descontos.

É aí que entra a bastante procurada ESG (sigla para ambiental, social e governança, em português). Usado para medir práticas de sustentabilidade empresarial, tem se tornado sinônimo de responsabilidade socioambiental, reputação e credibilidade para as empresas pressionado pelo mercado financeiro.

Em algumas empresas que dei consultoria com a @insight | Marcas Conscientes , pude perceber que estão tentando acompanhar uma onda na moda sem de fato entender como se pratica ESG: ouvindo seus colaboradores. Coragem da marca que tenta fazer socialwashing ou greenwhasing em plena era da transparência, com colaboradores expondo seus podres ao vivo em redes sociais.

Na correria das entregas de trabalho, muitos profissionais não participam das tomadas de decisões e nem sequer possuem as informações necessárias para contribuir nas estratégias da marca. Essas pessoas estão constantemente pressionadas pela relação entre pouco tempo e alta demanda. Muitas destes colaboradores nem sabem o que significa ESG enquanto seus gestores estão tentando comunicar sobre o tema para surfar na onda.

Tudo começa na cultura. Se existe uma cultura de medo e de repressão, não existe espaço para mostrar vulnerabilidade, para se expressar, para as emoções e para a diversidade. 

Uma pesquisa de uma empresa de recrutamento, Elancers, revela que quase 20% das empresas nacionais deixariam de contratar candidatos identificados como LGBTQIA+, e 11% só os contratariam para cargos sem visibilidade. Entre executivos, apenas 3 a cada 10 profissionais se assumem entre colegas de trabalho. A representatividade trans no mercado corporativo também é alarmante, Segundo levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% da população transexual e travesti tem a prostituição como fonte de renda e alternativa de sobrevivência, 72% não possuem ensino médio completo com uma expectativa de vida de 35 anos.

 ‘Temos uma luta muito grande para vencer essa ideia de que as pessoas trans não têm competências ou hard skills. As empresas acham que vão ter que mudar a régua da empregabilidade, e muito pelo contrário. Várias ficam surpresas quando eu consigo uma pessoa trans para uma posição de liderança’.

Maitê Schneider, fundadora do TransEmpregos

Então, o que as marcas podem fazer para contribuir com o futuro da sociedade na erradicação da LGBTQfobia?

  1. Líderes diversos: eu não sou especialista em D&I mas sou de cultura organizacional. E se a liderança das empresas não manifestar a vivência ou a empatia aliada – pouco se saberá como trabalhar com pessoas diversas. A diversidade precisa subir de cargo.
  2. Ativar a rede: existem marcas, empreendedores, fornecedores, creatos, LGBTQIA+ na logística da empresa? Como as habilidades combinadas entre os negócios podem proporcionar mais segurança para a comunidade. Seja física, emocional ou psicológica. Importante também identificar quem dessa rede está contribuindo para o problema e como a marca pode combater.
  3. Ações com propósito: Além do clássico junho do arco-íris, nas ações sazonais da marca o olhar do impacto para a comunidade LGBTQIA+ precisa estar ativado. Para garantir que esse público consiga a equidade dos direitos. (Burguer King é um ótimo case para esse tópico).
  4. Espaços de diálogos: É importante que as empresas proporcionem um espaço de diálogo seguro para que a integralidade das pessoas sejam respeitadas. O respeito na inter-relação melhora o clima organizacional e nutrir essas relações estabelecem espaço mais favorável para desempenho melhor.  E proteger as identidades nos canais de reclamações internas, por exemplo, e levar a sério as queixas dadas.
  5. Dá o aqué(dinheiro): apoiar iniciativas que busquem fortalecer a comunidade é uma forma da marca alinhar suas atividades ao seu compromisso. Dar a oportunidade para esses profissionais é incrível, mas pagar é magnífico. Ofereça recursos para projetos sociais, de capacitação ou até para fomentar a cultura Queer.

Burguer King é uma das marcas patrocinadoras oficiais da parada LGBQTIA+ em São Paulo. A marca de tempos em tempos cria alguma campanha abraçando a causa, promovendo informações e cria produtos cuja renda contribui com a causa.

Tudo é questão de coerência, olhar para esse problema sistêmico e entender aonde e porque a marca se aliaria a causa LGBTQIA +, só pra não ser uma motivação vazia. A Pfizer, por exemplo, homenageou os membros LGBTQIA+ de sua comunidade de funcionários com um vídeo e com a hashtag #PfizerProud, ao mesmo tempo em que doou quase US$ 1 milhão para 52 políticos anti-gays em 2018. Tem que ir além de entrar na pauta só pra ter alcance midiático, é preciso mostrar engajamento nessa questão porque se vive essa questão.

Obviamente, uma das maneiras mais poderosas para erradicar a LGBTQIfobia é amplificar a voz das pessoas com uma compreensão mais profunda do assunto (e valorizar esses profissionais em suas respectivas áreas de atuação, não é porque eu sou gay que eu vou falar sobre diversidade e inclusão na sua empresa). 

Esse cenário de consumo sempre será uma troca, então as marcas têm sim responsabilidade no tecido socioambiental. Exigir mudanças é a nossa arma, é um direito que temos como consumidores.

Pesquisa realizada pela minha empresa @insight | marcas conscientes. Conheça nosso trabalho de cultura organizacional, posicionamento, identidade e estratégia de marca.

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